quinta-feira, 16 de julho de 2009

O absurdo estava do outro lado da tela.


Pinico City está oferecendo alternativas de lazer para seus habitantes. É uma experiência inusitada essa. Mais recentemente, um suntuoso shopping dessa mixórdia, localizado perto de um esgotão no coração financeiro da cidade -talvez esteja aí para aplacar a fedentina das negociatas e “malvadezas” que se fazem por lá -resolveu retomar uma programação cinematográfica mais requintada.

O filme do cineasta italiano Pier Paolo Pasollini, Contos de Canterbury, está sendo exibido nesse grande estábulo. Para se conseguir comprar um ingresso para assistir a “película” do bardo italiano – esse sim podia receber o epíteto de cineasta, afinal produzia filme e fazia cinema, ao contrário dos amontoadores de imagens locais, quase todos pedintes e/ou esmolés dos cofres públicos –, gastou-se, em média, trinta minutos. O problema não estava só na demora para adquirir o famigerado papelão que dava acesso ao local, que em outros lugares é chamado de ingresso, bilhete etc. Mais duro mesmo foi assistir aquele tenebroso desfile: moças supostamente elegantes que trajam roupas dignas de bailes de debutantes usadas, para espanto dos incautos, em domingo ensolarado e quente. Há algo de suburbano nessas moçoilas, não seria maldade pensar assim. Elas estavam, como sempre, acompanhadas de seus digníssimos cônjuges, portadores de um jeito inusitado de comportar-se: indiferença em relação às moças e vestimentas que combinam a indefectível camisa xadrez, quase sempre, por dentro da calça jeans (o que parece ressaltar ainda mais a pança bem fornida) e sapato de couro marrom. Na sala de exibição, a impressão que se tinha era a de que aquela era a sala de um consultório geriátrico visto que a “média” de idade estava em torno de sessenta anos, mas era bem provável se “bater” com alguns na faixa dos noventa e....

Fora do estábulo reluzente, limpo por negros mais maltratados do que cavalos paraguaios, acontecia mais um festival dos detratores do bom gosto e dos nossos ouvidos que um famoso compositor baiano insiste em elogiar e enxergar como sinal da modernidade do samba. Isso claro, com a conivência e o beneplácito dessa imprensa e crítica musical Zé Ruela que se faz nesse mega favelão. O lixão não está apenas em Canabrava.


Por Ed Rose da Sucursal do Alto das Pombas


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A baianidade

Esse mal que nos acomete; esse jeito fuleiro de ser; esse berimbau que desafina.