No dia 05 de agosto de 2009, a banda baiana de rock, rockabilly, surf-music e quijandos, Retrofoguetes, fez o lançamento de seu segundo álbum intitulado Chachachá, no teatro Castro Alves (TCA) – templo das grandes produções culturais e de expressões artísticas supostamente mais refinadas e eruditas, espaço destinado às apresentações mais comportadas que, igualmente, exigem tal conduta da platéia(alías, o bom mocismo da platéia foi algo elogiado pela banda e direção do teatro). Pois bem, a escolha do lugar do show dá o que pensar. Estaria implícita nesta atitude uma necessidade de reconhecimento artístico e de maturidade dos rapazes, daí a realização do lançamento do álbum no TCA? Deixando essa questão em aberto, o espetáculo, pois foi isso que se viu por lá, também pode ser uma oportunidade interessante para pensar o cenário das minguadas produções culturais de Urinópolis ou Fezolândia (mais conhecido nos roteiros turistas nacionais e estrangeiros como Salvador).
A banda apresenta um inegável crescimento e apuro técnico, basta comparar as formações que antecederam o atual trio: Os Feios e The Dead Billies. Tal comunhão se expressava nas manifestações de intimidade inusitadas e, aparentemente, bem-humoradas através dos indefectíveis pedidos de “toca Raul”, “vumbôra Baêa”, lançados pelo público e ironizados pelos músicos da banda. Esse clima de ensaio de banda de garagem, naquele lugar, parecia convidar a todos para uma mescla despretensiosa de profissionalismo da produção – expressa pelo apuro na iluminação, no entrosamento com os músicos convidados e a qualidade do som – e a sisudez do teatro e, ao mesmo tempo, com a anarquia, a rebeldia e a irreverência dos rapazes. Essa irreverência aparecia também nas bisonhas piadinhas feitas entre os músicos da banda, deles em relação aos convidados e ao público. Isso talvez sugira a presença (incômoda?) que algo ainda precisa ser aparado ai, ou seja, talvez indique que essas inocentes brincadeirinhas, para além de sua aparente leveza, descontração e auto-ironia, marcam um profissionalismo ou maturidade que ainda não se completou. Isso não parece dizer algo sobre as vicissitudes das produções culturais de Urinópolis? Há algum problema nisso? Não, não há.
Por isso mesmo, talvez seja interessante assumir, sem ingenuidade, a precariedade como forma. Em outros termos, seria possível acompanhar a premissa do Bandido da Luz Vermelha de Rogério Sganzerla, e dizer: “quando a gente não pode, a gente esculhamba”. O que levaria a deixar a pretensão de lado e se contentar a ser o que apenas se é. No caso da música e das produções culturais baianas, vale dizer, aceitar o fato que não se é e não se faz grande coisa por aqui.
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